segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Natal

Comemoramos, nesta quadra, o nascimento, há 2010 anos, de uma linda criança.
Tentamos saborear, pelo menos uma vez no ano, por alguns momentos, o prazer esquecido de sermos crianças.
Sorrisos e boas gargalhadas é que eu desejo a todos, todos os dias do ano. Tudo tem um lado cómico. Sejam Felizes no Natal e nos outros dias.
E, já agora ... façam Boas Festas uns aos outros.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Adeus tio

Querido tio e padrinho
Soube que partistes hoje de manhã. Uma partida rápida e inesperada. Espero que não tenhas sofrido muito, pois estas passagens, tanto a nascer como a partir, são normalmente um pouco dolorosas. Desejo-te uma boa viagem e uma boa estadia por lá. Pelo que sei, vais para um sítio fantástico, sem tempo nem espaço, onde ao contrário daqui, onde tudo é relativo, lá tudo é absolutamente possível.
Como sempre tivestes um bom sentido de humor, na passagem por esta forma de vida, acho que posso pedir-te este favor. Então é assim, se vires por lá a minha mãe, as minhas avós, o meu avô, a minha prima, as minhas vizinhas de infância e alguns outros amigos meus, dá-lhes um grande abraço meu e diz-lhes que, apesar da saudade, estou muito feliz e cá vou vivendo apaixonadamente, da melhor forma possível, tentando ver sempre o lado bom do que nos vai acontecendo a cada dia, neste lindo planeta do arco-íris. O sol, as estrelas, as flores, o céu, o mar, os pássaros, as plantas e animais, a água, o ar puro e a comida, o meu querido filho, a minha amada mulher, o meu pai e todas as pessoas, sorridentes ou sisudas, que se cruzam connosco, de vez em quando e nos fazem querer ser seres humanos melhores. Claro que temos a noite todos os dias mas isso é apenas para abrandarmos um pouco, descansarmos e, com toda a energia, saborear, com amor, cada novo nascer do sol.
Novos amigos foram aparecendo na minha vida e eles são uma das melhores coisas que temos, não é ? Não falámos muito nos últimos anos porque a vida nos afastou mas, mesmo naqueles encontros na rua, ou em ocasiões especiais como casamentos e funerais, sei que preservavas muito os teus amigos e te encontravas com eles quase todos os dias. Sei que um dia podemos encontrar-nos de novo, noutra vida ou dimensão, noutro tempo e noutro espaço, pois só assim tudo isto faz sentido e, nessa altura então, pomos a escrita em dia.
Apenas uma lágrima de saudade pois esta é uma viagem que todos vamos fazer. Só que, como não sabemos quando nem onde, ficamos às vezes com a sensação que somos imortais e, estupidamente, pensamos que são coitadinhos aqueles que partem à nossa frente. Não há coitadinhos nestas coisas. Todos vão partir, mais à frente ou mais atrás e alegra-me acreditar que há qualquer coisa que nos espera depois disto tudo, não sei ...
Espero que tenhas feito por cá tudo o que mais gostavas e não leves nada por resolver. Os teus filhos, netos, amigos, familiares e conhecidos irão espalhar um pouco por todo o lado o teu amor, a tua lembrança e teu eterno património espiritual.
Mais uma vez desejo-te boa viagem, peço-te que não te esqueças de dar o meu recado àqueles que te disse e, até um dia destes querido tio.
Um forte abraço
Carlos

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Crise

Acordei de manhã com o cantar do galo, num sítio muito estranho, numa cama bem confortável e quentinha. O colchão não era de lã nem de camisas de milho mas sim de um material macio, com molas e duro ao mesmo tempo, e ajustava-se perfeitamente ao meu corpo. Quando abri os olhos reparei que o som do galo vinha de uma caixinha pequena com luzes e botões e, mais tarde, vi a minha esposa usá-lo para falar com a sua mãe. Não percebi, na altura, como ela fez isso pois a caixa não tinha fios e, tão pequena, não parecia nada um telefone. Mas afinal era mesmo um telefone, com um som de galo lá dentro.
O sol despontava no horizonte e, apesar do vidro tão grosso, ele entrava pelas janelas semi-fechadas com umas lâminas brancas, parecia madeira.
Numa divisão contígua ao quarto estava uma pequena sala com um espelho e umas bacias brancas. Em todas elas havia um aparelho que deitava água. Soube mais tarde que se chamava torneira e que a água que saía era potável.
Lavei-me e bebi água. Contemplei-a maravilhado na concha da minha mão. Não havia cântaros, nem alguidares nem fontes para ir a pé buscá-la. A água límpida saía da torneira sempre que eu queria. E podia até escolher quente ou fria. Que mundo fascinante seria este ! Percebi mais tarde que uma das bacias brancas servia para fazermos as nossas necessidades, mesmo ali, junto ao quarto de dormir, sem precisar de ir à rua e tudo muito higiénico.
Vi então a minha mulher carregar num botão luminoso vermelho, de um quadro negro rectangular que estava na parede e … milagre … apareciam imagens e sons de todo o lado do mundo. Uma senhora simpática e bonita ia descrevendo essas imagens. Que estranho quadro com tantas cores e músicas a passar que enchiam de alegria o quarto de dormir. Mais tarde soube que lhe chamavam LCD.
Vesti um dos muitos fatos, impecavelmente limpos e bem cheirosos, que estavam pendurados num armário do quarto e, reparei nos sapatos, tão brilhantes que me assentavam como uma luva. Sentia-me um principe assim tão bem vestido e calçado.
Já tinha alguma fome e que bom seria beber um pouco de leite.
- Onde está a vaca aqui nesta casa ? – perguntei. Talvez esteja dentro de outra caixa, tal como o galo - pensei baixinho. A minha esposa achou estranho a pergunta mas respondeu a brincar: - Está no frigorífico ! E apontou na direcção de outra sala toda coberta de cerâmica branca. Fui abrindo as portas dos vários armários e, para grande surpresa minha, havia comida, pratos, tachos, copos e toda uma série de coisas fascinantes para tratar da comida. Um dos armários estava muito frio por dentro. Quando o abri acendeu-se uma luz e lá vi um pacote, com o desenho de uma vaca. Deve ser leite pensei. Provei e … que maravilha era mesmo leite. Assim fresquinho ainda sabe melhor. Só continuo sem saber onde está a vaca mas que importa isso. Elas são muito queridas mas cheiram mal e dão muito trabalho.
Ao lado do leite havia uma infinidade de alimentos frescos. Frutas, legumes, queijo, manteiga. Humm que maravilha. De que quinta terá vindo tudo isto ? E foi durante a noite pois está tudo tão viçoso !
Ali havia outro LCD que passou também a dar imagens e sons quando carreguei no tal botão luminoso do canto inferior direito.
Assustei-me entretanto com dois apitos que soaram quase ao mesmo tempo. O primeiro apito, tipo campainha, vinha de um dos armários onde a minha mulher retirou um copo de leite quase a ferver. O outro, mais sonoro e contínuo, vinha de uma estranha máquina branca. Ela foi logo desligá-la e, surpresa minha, tirou de lá de dentro um pão acabado de fazer. Já me tinha cheirado a pão mas nunca pensei que fosse ali na própria casa que ele se estivesse a fazer ! E sozinho ! Dentro de uma máquina !
Mais tarde, enquanto ia sentado ao lado da minha esposa, tão bem vestida, pintada, penteada e cheirosa, dentro de uma outra máquina metálica, confortável e com rodas, a que chamavam carro, onde viajávamos a grande velocidade, sem cavalos a puxar, ainda a pensar no delicioso pão quente com manteiga que tive o prazer de saborear uns minutos antes, perguntei-lhe:
- Onde vamos ?
E ela respondeu:
- Hoje estás muito estranho. Nem quisestes trazer o teu carro. Claro que vamos trabalhar.
- Qual trabalho ? Eu tenho trabalho ? E um carro ?
- Claro que sim e podes agradecer a Deus, pois está aí uma crise !
- Crise ? Qual crise ? - pensei eu.

Enfim … pelo que entendo, parece-me que acordei, sem querer, 80 anos depois do meu tempo, num local com tanto conforto e bem estar, comparado com o que eu tive mas ... ao que parece ... dizem que estão agora a passar por uma crise.


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Intraterrenos

Há quem acredite que vivem outros seres dentro do nosso planeta. São os chamados intraterrenos. Dizem que são seres pacíficos que habitam no interior da Terra, em cidades subterrâneas de outra dimensão e vêm à superfície, exporadicamente, dar um sinal da sua existência. Uma das cidades intraterrenas mais conhecidas é no norte da Argentina. Chama-se Erks. Aí avistam-se naves e ocorrem fenómenos físicos, psicológicos e conscienciais de difícil explicação para o comum dos humanos.
Também os mineiros passam grande parte da vida debaixo de terra. E, ao contrário dos intraterrenos, não é quando aparecem mas sim quando desaparecem que se dá a notícia.
É um trabalho pesado e penoso, longe da luz do sol, da chuva, do ar puro da floresta ou da montanha, dos pássaros e às vezes afastado do carinho da família e dos amigos. É um trabalho pesado e perigoso e, só uma rigorosa disciplina, alguma solidariedade e, muita fé e paixão, permitem aos que trabalham dentro da terra, sobreviver longos anos nessa profissão.
Por vezes, o acaso ou o descuido, provocam acidentes e, a várias centenas de metros de profundidade, o resgate é muito difícil.
Por vezes também, em situações deveras complicadas como a que aconteceu agora no Chile, os mineiros são capazes de sobreviver várias semanas sem qualquer contacto com o mundo exterior e o mundo é capaz de se unir, para encontrar uma solução de resgate para trazê-los de novo à vida.
É bom viver aqui à superfície, neste mundo de tamanha grandeza de espírito, em várias dimensões.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Um país adiantado

Todos os cidadãos se levantavam antes do nascer do Sol para irem trabalhar ou estudar. Chegavam aos seus empregos ou escolas uma hora antes do horário. Isto para prevenir eventuais imprevistos no trânsito ou nos transportes públicos e, também, para poderem conviver um pouco com os seus colegas. Algumas empresas e escolas tinham aulas de ginástica, yoga ou outras actividades físicas com música, logo pela manhã, para motivar uma boa energia para o resto do dia.
Muitas reuniões começavam e terminavam antes da hora prevista. Muitas pessoas saiam das empresas ao fim do dia, antes do seu horário, porque conseguiam fazer tudo com grande produtividade. Quase não havia stress. Havia um respeito muito grande pelos outros seres humanos. No trânsito era onde mais se notava, pois ninguém protestava se alguém ia mais devagar a conduzir ou estava a impedir a normal circulação de pessoas e veículos.
Até para comerem, beberem ou divertirem-se eles chegavam sempre antes da hora.
Era mesmo um país muito adiantado !

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O caso Casa Pia

A Casa Pia de Lisboa foi fundada no dia 3 de Julho de 1780, no reinado de D. Maria I, por iniciativa de Diogo Inácio de Pina Manique, no contexto dos problemas sociais decorrentes do terramoto de 1755 que devastou a cidade de Lisboa.
Provisoriamente instalada no Castelo de S. Jorge recebeu crianças, órfãs e abandonadas, além de mendigos e prostitutas, em sectores diferenciados.
Atravessando mais de 2 séculos de história, a Casa Pia de Lisboa aposta hoje no futuro, com o objectivo último de servir melhor as crianças, os jovens e as suas famílias e de responder, de forma mais eficaz e eficiente, aos problemas do nosso tempo, prestigiando a sua História.

Este é um resumo do texto que se lê no site desta nobre instituição que, tanto tem feito pela educação moral e profissional de inúmeras crianças no nosso país, abandonadas pelos pais em circunstâncias tantas vezes incompreensíveis, imorais ou criminosas. A Casa Pia garante uma justiça genuína e subtil, a muitas crianças que, por vicissitudes várias da vida, se vêm sozinhas neste mundo. É mesmo um caso de sucesso.

Talvez por isso se tenha dado tanto relevo, nos últimos tempos, nas TVs, rádios e jornais, ao célebre caso de justiça desta Casa.

sábado, 4 de setembro de 2010

A floresta mágica e os fogos

A nossa floresta é realmente fabulosa. Árvores majestosas e frondosas, algumas seculares, dão-nos o oxigénio, a sombra e até a tranquilidade e a paz que tantas vezes precisamos. São elas que crescem desafiando a lei da gravidade e ligando a terra ao céu. São elas que suportam o equilíbrio dos ecosistemas de uma infinidade de seres vivos. São elas que abrigam mágicas energias subtis que nos transportam para estados de espírito de saúde e serenidade.
Esses seres imóveis e poderosos mostram-nos o quanto é possível fazer tanto pela vida sem sair do mesmo lugar. Rasgando e rompendo, lenta e silenciosamente, pela terra dentro, procuram a água e os sais minerais vitais para se alimentarem e, através da luz solar, convertem-nos em madeira, casca, folhas, frutos e oxigénio. Todos os dias do ano, com frio, vento, chuva e calor intenso, elas ali estão, estáticas, abanando de alegria as suas copas ao sabor da brisa e realizando o seu místico destino de ajudar a raça humana a sobreviver neste lindo planeta multicolor de predominância azul marinho. Há árvores, como por exemplo a oliveira, que chegam a durar vários séculos. Algumas oliveiras conheceram alguns dos nossos antepassados que nós nunca conhecemos. E ali continuam, no mesmo sítio, agora mais velhas mas ainda com mais trabalho que dantes, pois o ar está muito mais poluído. Mas elas não se importam. Não protestam. Não fazem greve. Não choram. Apenas estão. Apenas são. Apenas dão.
Há árvores de folha persistente que são verdes todo o ano. Há outras que amarelecem no Outono, ficam completamente despidas no inverno e depois, quando parecem quase mortas, eis que se dá o milagre da ressurreição em cada primavera com o aparecimento das primeiras folhas, flores e mais tarde os frutos.
Muitos animais têm uma forte relação com as árvores, seja para construir a sua casa ou o seu ninho, para se abrigarem, para se alimentarem ou, simplesmente para respirarem o seu ar. Por isso a floresta, além da melodia dos seus ramos a oscilarem com o vento, tem um outro som muito agradável proveniente do canto dos animais seus habitantes. Pássaros, cigarras, lobos, esquilos e veados, entre outros, são alguns dos elementos dessa grande orquestra sinfónica florestal que enche de alegria e tranquilidade os nossos ouvidos.
Cada árvore é um ser mágico que nos deve merecer o maior respeito e admiração. Fazer-lhes mal é fazer mal a nós próprios e todos os que mais amamos.
Por isso quando se cortam ou queimam árvores ou outros seres do reino vegetal, qualquer que seja o motivo, devíamos chorar emocionados a sua partida, reverenciá-los e agradecer-lhes a eles e a Deus pelo trabalho que realizaram e, logo a seguir, plantar novas árvores e plantas no seu lugar.
Aqueles que fazem mal às árvores registam na sua memória e na sua consciência pesos que irão carregar por toda a sua vida. E mais do que matar, essa culpa impede as pessoas de viver bem com a vida durante muito tempo. Mas é um problema deles.
Aos que, como nós, gostam da vida, do ar puro e da floresta compete-nos apenas plantar, regar e cuidar cada vez mais e mais árvores.
Passar na televisão a floresta a ser cortada ou a arder é uma perca de tempo pois dá alguma importância, por alguns dias, a quem não gosta das árvores.
Passar na televisão imagens das grandes e bonitas florestas que temos na nossa Terra é uma enorme alegria para a alma e assim, usamos o nosso precioso tempo, prestando uma merecida homenagem a quem realmente tem valor: As nossas muito queridas e amadas árvores.
Bem hajam por existirem ! Nós vos amamos.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O loendro e as auto-estradas

Na vida e na natureza, a beleza e o perigo andam algumas vezes de mão dada. É o caso do loendro. Uma frondosa flor rosa ou branca que alegra jardins, campos, caminhos, estradas e auto-estradas e que é extremamente venenosa. Uma simples folha é tão tóxica que ingerida pode matar qualquer pessoa. Respeitando a sua identidade mortífera e apreciando a sua beleza sem lhe tocar, tudo é maravilhoso. Ignorando-a, habilitamo-nos a sofrer violentamente.
Esta planta é muito resistente e tem flor durante grande parte do ano. Talvez por isso seja tão utilizada nos separadores centrais das auto-estradas. Talvez também para nos lembrar que devemos respeitar certas regras para podermos continuar a contemplar e saborear este mundo fabuloso, colorido de fascinantes cheiros, sons, cores e sabores.
Com chuva ou nevoeiro devemos abrandar a velocidade pois pode haver um obstáculo fora do campo de visão habitual e fora do controlo normal da nossa forma de conduzir. E, atenção, abrandar pode querer dizer passar de 120 Km por hora para 40 ou 50, respeitando as regras da natureza.
Votos de uma bonita viagem.

domingo, 15 de agosto de 2010

A barrela, o sabão e o cadeirão

Vivia-se ou melhor, sobrevivia-se, no interior profundo da serra de Monchique, estávamos na década de 50. Não foi há tanto tempo assim, apenas pouco mais de meio século. E esta história podia ter-se passado em qualquer outro local do país, especialmente no meio rural.
Nessa época quase não havia dinheiro mas ela sonhava um dia poder ter todas aquelas coisas boas que ouvia falar nos livros, pois sempre gostou muito de ler.
- Oh minha mãe, o que é um sofá ? E uma alcova ? E um telefone ?
- Cala-te filha, sei lá o que é isso, credo ! deixa-te de perguntas parvas e vai mas é trabalhar !
Trabalhava-se do nascer ao por do sol. Tudo ali tinha que ser produzido a partir da natureza. O linho que se plantava para mais tarde fiar e tecer os tecidos dos lençóis e das roupas, a lã para as mantas no rigoroso inverno serrano, os legumes que vinham da horta que tinha que ser regada quase todos os dias, os animais que se criavam para comer num dia de festa ou, no caso das galinhas, quando alguém adoecia. Os ovos sempre podiam ser vendidos na cidade e assim ganhar-se algum dinheiro para a soda cáustica e outros preparados químicos ou para remédios. O pior eram as distâncias. Dali até à cidade eram mais de 20 Km e ela tinha que ir de burro ou melhor, de macho, que o burro era muito lento. Não havia medo de ladrões nem de outros malfeitores. O maior medo era dos lobos. O pai dela já tinha sido atacado por um e não ficou nada bem.
Ela também ia todos os dias à escola, a pé que ficava a uns 10 Km e nunca se sentia cansada. Era muito divertido fazer esse percurso, sozinha ou com os amigos e ela adorava a escola pois sempre adorou aprender coisas novas. Se não fosse a falta de dinheiro que fez com que interrompesse os estudos hoje, muito provavelmente, seria professora mas… é a vida ! Mesmo nos dias de chuva, vento e frio, lá ia ela. A chuva não fazia mal a ninguém e, se fizesse, era só um dia ou pouco mais de febre e lá passava tudo. Que remédio tinha senão passar. Não havia hospital por perto e os médicos eram muito caros. Quando ficava alguém com uma gripe forte, a que chamavam de catarral, havia um remédio santo que todos tomavam: chá da ferrugem. Ao pé das lareiras algumas áreas iam ganhando ferrugem e, depois era só raspar para uma cafeteira com água e ferver. Quase sempre se resolviam as gripes com este remédio caseiro. Para os casos mais graves, compravam-se os tablotes que eram muito eficazes para a febre, assim como as papas de linhaça e água de aivenca. A canja de galinha era o complemento perfeitos destas terapias naturais.
As lareiras também produziam uma matéria prima muito importante na economia de subsistência da altura: a cinza. Isso mesmo, a cinza era usada, vejam só, para branquear o linho, a roupa branca em geral e, por vezes, até para arear as panelas de latão, a que chamavam panelas de arame. Fervendo a cinza com água e depois coando obtinha-se um preparado químico especial para branquear, desinfectar e tirar nódoas que mais tarde foi substituído pela lixívia, hoje tão vulgar e tão economicamente disponível nos nossos supermercados. Depois de lavada com sabão, a roupa era passada pela água fervida de cinza, a que se juntavam pedaços de rosmaninho, alecrim ou alfazema e, acreditem, diz ela, era um cheirinho perfumado tão bom que nem hoje, os mais avançados amaciadores nos conseguem dar. Chamavam-lhe a Barrela. Todas as semanas, pelo menos uma vez, havia barrela lá em casa, naquela pequena aldeia com 60 pessoas que viviam apenas do que a terra lhes dava. Hoje já só restam por ali pouco mais de 3.
O sabão também era uma coisa que ela ajudava a fazer. Juntava-se a banha do porco com soda cáustica, um quilo de cada, e ia a ferver com quatro litros de água. O preparado era então colocado numas formas de madeira e deixava-se solidificar. Saiam dali as barras de sabão, com uma tonalidade esbranquiçada e azulada, que serviam para lavar tudo lá em casa.
Só não lavava a sua grande sede de conhecimento que a levou a perguntar à D. Lurdes, pessoa erudita sua conhecida e vendedora dos livros que ela comprava, o que era uma alcova e um sofá ao que ela lhe explicou que a alcova era um quarto de dormir e o sofá era assim uma espécie de cadeirão. Foi por isso que, um dia, já ela namorava, o pai disse-lhe: - “Oh filha ! agora que já namoras, o pai tem de pensar em comprar-te uma mesinha e quatro cadeirinhas em madeira”. Ao que ela retorquiu prontamente: - "Oh ! meu pai, obrigado mas cadeirinhas não ! Compre-me é um cadeirão !"
Quando hoje lava as suas mãos com sabonete, quando se deita nos seus lençóis lavados ou quando se senta confortavelmente no seu sofá, ela pensa nesta história e agradece pelas coisas boas e pelos momentos tão ricos e maravilhosos que a vida lhe tem proporcionado.
E você ?

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Freeport

As pessoas estão cada vez mais bonitas. Umas pelo seu desenvolvimento interior. Outras pela forma como se apresentam. Outras pelas duas coisas que, de algum modo estão interligadas.
O vestuário tem vindo a evoluir continuamente nas últimas décadas e temos hoje criações lindíssimas, de designers nacionais e internacionais famosos, a preços muito acessíveis. É interessante contemplar uma peça de roupa e descobrir todos os seus pormenores, desde o tecido obtido a partir de uma flor de algodão ou de um fio de seda, até às cores, ao corte, aos acabamentos de bom gosto e uma multiplicidade de acessórios criativos que inundam de charme e beleza quem a usar.
É fantástico que quase todos podemos comprar várias novas peças de roupa ao longo do ano, mas lembremo-nos que os nossos ancestrais tiveram apenas alguns fatos em toda a sua vida e que, hoje, em quase todo o planeta, ainda assim é ... muita gente de tanga !
Com os gostos a alterarem muito rapidamente, também as roupas vão acompanhando, ao longo das épocas, essas mudanças. A moda vai ditando as suas regras e o vestuário rapidamente se desactualiza. Por isso as grandes marcas de vestuário, calçado e acessórios têm necessidade de escoar alguns dos seus produtos que não se venderam numa dada época e promovem, algumas vezes por ano, uma coisa excepcional que se chamam "Saldos". É fantástico nos Saldos podermos adquirir uma peça de roupa ou uns sapatos da mais elevada qualidade por um preço incrivelmente baixo, apenas porque já passou de moda.
Ficamos certamente ainda muito elegantes e bonitos apesar de não ser o último grito da moda e a nossa carteira agradece.
Agora imaginem o que seria termos esses Saldos a qualquer hora, todos os dias do ano !
Pois é ! Huau ! Isso já existe ! O engenho humano criou um local onde se pode adquirir vestuário e calçado de grandes estilistas e de grande qualidade, muito barato, todos os dias do ano !
É o Freeport ! Em Alcochete ! Têm sempre saldos ! Vale a pena ir até lá !
Julgo que é por isso que tanto se tem falado nos últimos meses, nos nossos jornais e na nossa TV, deste espectacular empreendimento !

domingo, 8 de agosto de 2010

O Papa também obra

Que Sua Santidade me perdoe de utilizar a sua pessoa para explicar melhor esta poesia de Deus: Todos os humanos defecam. É verdade, mesmo as figuras públicas mais famosas obram. A natureza dotou a generalidade das pessoas de alguns dons especiais como a beleza, a inteligência, a força ou habilidade artística mas, tal como uma rosa frondosa tem os seus espinhos, todos nós temos outras coisas menos belas e, por isso, completamente esquecidas pelos meios de comunicação quando abordam a vidas dos VIP's. Estou a falar dos actos mais básicos naturais da nossa existência como urinar, espirrar, arrotar, defecar, dar gases, cuspir, vomitar ou outros comportamentos, considerados menos dignos, como comer com a boca aberta, insultar alguém, fumar num local fechado ou fazer nudismo.
Pense no seu cão. Ele ladra a qualquer hora ou em qualquer local e faz as suas necessidades a céu aberto. Você apanha e coloca no lixo sem qualquer problema. O cão é mesmo assim. E você adora-o.
Agora pense numa figura célebre, no Papa por exemplo. Eu admiro-o pela símbolo de paz e de amor que ele representa para a humanidade mas sei, também, que ele é uma pessoa normal como eu ou como você. Temos a nossa cabeça cheia de imagens e sons filtrados pelos meios de comunicação, pela nossa educação ou apenas pela nossa imaginação mas, será que conseguimos imaginá-lo sentado numa sanita do Vaticano ou em frente a um urinol, várias vezes por dia. E se for a arrotar. Ou apenas a ressonar ou a espirrar. Ou zangado com alguém. Ou nú. São tudo exemplos de coisas simples que quase todos nós fazemos, todos os dias, até com alguma arte envolvida mas que, por causa dessa tendência, também natural, de protecção do nosso ego e de defesa da nossa imagem pública, somos levados a encobrir ou, mais incrivelmente, a esquecer que existem, para não perturbar aquela falsa imagem divina que temos de alguém ou, até de nós próprios.
Não há pessoas boas nem pessoas más. Todas as pessoas fazem coisas boas e outras menos boas. Faz parte da sua natureza. O google, o youtube, o facebook ou o blogspot são hoje instrumentos fantásticos para elevar a consciência humana a esse nível de divindade, aceitando naturalmente que todos nós, sem excepção, temos e fazemos coisas excepcionais e coisas horríveis. Desde o Dalai Lama, passando pelos famosos actores de Hollywood, até aos políticos mais credíveis como o Marcelo Rebelo de Sousa.
Como eu, como você, todos eles obram. E os seus dejectos são tão bons para fertilizar o solo como os seus ou os meus. Todos sabemos isso mas, claro, há coisas que teimamos em esconder, ignorar ou até desmentir e ridicularizar.
Quem nunca obrou que atire a primeira pedra.
Uma sanita é um objecto branco cristalino brilhante, criado pelo homem, com um design espectacular e uma beleza únicos. A imagem de um papa sentado nela só pode ser aceite, contemplada e apreciada por um poeta muito especial.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Que bom existirem SCUT's

Durante milénios o homem viajou pelo mundo, por terra e mar. Por terra viajou quase sempre a pé, de burro, cavalo, camelo e outros animais possantes. Só há cerca de um século apareceu o comboio e depois o automóvel que permitiu aumentar as velocidades significativamente e diminuir bastante os tempos de percurso. De caminhos de terra batida evoluímos para estradas de pedra e mais tarde de alcatrão. De velocidades lentas de 5 ou 10 Km por hora, passámos, ao longo dos últimos 100 anos, para velocidades médias terrestres de 120, 150 ou mais Km/h, essencialmente graças ao automóvel. Conseguimos viajar hoje, individualmente, de Lagos até Vila Real de Santo António, por exemplo, em pouco mais de 1 hora, coisa que há 50 anos atrás demorávamos meio dia a fazer. Há 100 anos nem se fala pois, esse tipo de distâncias, demorava dias a percorrer.
A nossa geração tem hoje o privilégio de ir da sua casa a outro qualquer ponto do país, em menos de um dia, para ver familiares, amigos ou simplesmente gozar alguns momentos de lazer junto da natureza ou de obras grandiosas realizadas pelo homem.
É uma grande alegria e um grande prazer poder desfrutar dessa grandiosa emoção de viajar livremente de automóvel por esse mundo fora, em grande conforto e segurança.
Tudo isto se deve principalmente ao grande engenho do homem na construção dos automóveis e das auto-estradas. A tecnologia envolvida na construção destas vias rápidas é verdadeiramente fabulosa. Desde o pavimento anti-derrapante, à drenagem de águas pluviais, das curvas especiais em clotóide para minimizar a força centrífuga, dos viadutos e pontes, das protecções laterais e taludes, da sinalização diurna e nocturna até ao estudo de impacto ambiental, tudo é uma maravilhosa obra de engenharia e arquitectura que o homem do nosso tempo consegue, com alguma facilidade, realizar e que devemos com o maior prazer apreciar e louvar.
Fala-se hoje muito de um tipo especial de auto-estradas que são as SCUT's. A sigla SCUT é uma abreviatura de "Sem Custo para os UTilizadores" mas, dado que o governo decidiu começar a cobrar a sua utilização, não se fala noutra coisa nos meios de comunicação há várias semanas.
A energia negativa que se gasta nesta discussão é enorme. Os custos de tempo das pessoas envolvidas são avultados e o resultado todos sabemos qual vai ser: alguém terá que pagar os custos de construção e manutenção destas obras para que continuemos a gozar a sua utilização.
Qualquer que seja o resultado, será certamente sempre um enorme prazer e alegria viajar a grandes velocidades contemplando a linda paisagem circundante, ouvindo música, parando numa estação de serviço para tomar uma bebida e descansar um pouco ou, em casa, ver fotos na internet, estudar percursos no Google ou, simplesmente, sair dessa via rápida e descobrir locais mágicos nas proximidades. O mar. O campo. A montanha. A aldeia perdida no tempo. A comida deliciosa local. A simpatia e simplicidade das pessoas em harmonia com a vida. E tudo isto a tão pouco tempo da nossa casa. Que bom é existirem SCUT’s !

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Quase uma introdução

Vivemos hoje, neste belo cantinho europeu, uma das melhores épocas da existência humana. Ao fim de vários séculos, devido ao muito trabalho dos nossos pais e avós, quase todos temos hoje água pura canalizada em nossas casas, quase todos temos pão para comer todos os dias, a temperatura é amena quase todo o ano em quase todo o lado, há tratamento sanitário em quase todas as localidades, o ar que respiramos é saudável em quase todo o país e quase todos vivemos em paz. Para além das condições básicas necessárias à sobrevivência humana, quase todos temos automóvel, rádio, televisão, fogão, frigorífico e muita música a quase toda a hora em quase todos os locais. Quase todos temos acesso quase gratuito a um médico e a um professor.
E o que vemos nós, quase todos os dias, escrito em quase todos os jornais, anunciado em quase todas as rádios e televisões ?
A excepção. O poder.
Quase se noticia apenas aquilo que corre mal dentro do vasto universo de coisas boas que acontecem quase todos os dias. Depois discutem-se esses incidentes de excepção, atiram-se as culpas para uns e outros e nisto se perdem enormes quantidades de preciosa energia que poderia ser canalizada para a criatividade, para um trabalho motivador e para a construção de um mundo ainda melhor.
Por isso resolvi criar este blogg para ir escrevendo o que me parece ser quase a regra neste lindo planeta, onde podemos desfrutar a toda a hora, quase todos os dias, as maravilhas da vida e da natureza, nesse delicado equilíbrio de diversificada beleza, saúde e alegria, criada por essa divina energia a que chamamos "Deus".
Tudo tem quase sempre um lado muito mágico e belo !
Realmente, isto só pode ter sido criado por um poeta.