domingo, 15 de maio de 2011

Votar em branco

Havia um lindo país, com gente boa e trabalhadora que um dia decidiu aderir à Democracia. Criaram-se vários partidos com diversos planos e programas para o desenvolvimento desse país mas, durante mais de 30 anos, foram sempre os mesmos 2 partidos a tomar o poder. Um deles vestia-se de rosa e o outro de laranja. De 4 em 4 anos iam a votos e umas vezes ganhava um outras vezes ganhava o outro. Durante todos esses anos pediram muito dinheiro aos outros países da Europa onde esse país se localizava e, enquanto o dinheiro fácil foi entrando, os governantes foram fazendo o melhor que sabiam para investir em estradas, hospitais, automóveis, saneamento básico, energias alternativas, computadores e alguma coisa na formação profissional. O nível de vida das pessoas aumentou para um nível nunca antes atingido em séculos anteriores. Mas, ao fim de 33 anos, a crise instalou-se na Europa e o dinheiro começou a escassear. O país entrou em recessão económica. Começaram a analisar onde estavam os maiores gastos e perceberam que o principal problema eram os custos administrativos do país. Mais de 20% da população activa trabalhava para o Estado e toda a pesada máquina política e de administração pública era a principal causa de asfixia económica do país. Com a alternância rosa e laranja todos os governantes se foram de algum modo desleixando, utilizando o Estado para seu benefício e nunca fizeram as reformas que o sistema necessitava. Cansado da situação o povo decidiu então, ao fim de alguns anos, votar maioritariamente em branco para exigir a redução da pesada máquina do Estado. O voto branco ganhou e uma junta de salvação nacional tomou temporariamente o poder. Com toda a tecnologia e conhecimento que tinham adquirido, conseguiram reduzir o governo a 4 ministérios: Finanças, Justiça, Educação e Ambiente. A Saúde passou a fazer parte do Ambiente pois todos os processos de prevenção se aplicavam da mesma forma e a Saúde preventiva permitiu reduzir 50% o custo de medicamentos e cirurgias. O Trabalho e a Administração Interna estavam com a Justiça e a Segurança Social com as Finanças. O primeiro ministro deixou de existir e os 4 ministérios dependiam da coordenação do Presidente da República que coordenava a defesa e os negócios estrangeiros com os outros países da Europa. A Assembleia Legislativa passou a ser constituída pelos 20 melhores juristas do país eleitos pelos partidos, para simplificarem o sistema jurídico. A maior parte das leis vinham da Europa e apenas eram precisas pequenas adaptações locais. As 308 autarquias e as 4200 Juntas de Freguesia passaram a ter mais algumas competências, nomeadamente de cobrar alguns serviços locais de forma a que fossem economicamente sustentáveis. Quando subiam o défice acima de certos valores faliam e eram tomadas por uma Câmara próxima.
Toda uma economia moderna, respeitando o Planeta e apoiada na mais avançada tecnologia, sustentava o país em todas as vertentes, desde os transportes e obras públicas até à agricultura e pescas. Esta foi a mais importante revolução alguma vez ocorrida no país e tudo decorreu com a maior alegria pois o cansaço e a tristeza de tantos anos de mentiras tinham acabado. A dependência externa era saudavelmente cada vez menor e o progresso económico e social sentia-se a cada dia.
Neste novo modelo político, haviam vários partidos que disputavam o poder, com dimensões muito semelhantes mas, na realidade, todos comungavam das mesmas linhas estratégicas. O povo escolhia pelas pessoas que mais lhe inspiravam confiança para cada um dos 4 ministérios e para cada um dos municípios. O Presidente era escolhido para governar durante 12 anos mas podia ser demitido pelo povo ao fim de 4 ou 8 anos.

Bendito o dia em que decidiram votar em branco. A Democracia era mesmo o melhor modelo político para governar os países.